Eu Te Explico #114: 'Tiro seu útero ou você morre'; como a violência obstétrica acontece antes, durante e depois da gestação

  • 07/11/2024
(Foto: Reprodução)
Vítima faz relato emocionante no episódio que conta ainda com a participação da advogada Andreza Santana, da psicóloga Verônica Santos da Silva e da ginecologista e obstetra Tatiana Magalhães Aguiar, integrante do Cremeb. "Você tem duas opções: ou tiro seu útero ou você morre". Essa foi a abordagem do médico para Soraia*, 34 anos, que realizava o sonho da maternidade, mas não esperava que, ao mesmo tempo, seria vítima de violência obstétrica em um hospital público de Salvador. Para piorar a situação, uma gaze foi esquecida dentro do seu corpo durante o parto. Hoje, três anos após a sequência de atos violentos, ela processa o Estado. Nesta edição do podcast Eu Te Explico, o apresentador Fernando Sodake discute as diferentes nuances da violência obstétrica. O assunto ganhou ampla repercussão nos últimos dias, após a denúncia de Liliane Ribeiro, 33 anos, que relatou a morte da filha por conta de uma lesão no pescoço feita pela profissional que a puxou para fora da vagina durante o parto. O caso foi apresentado no Bahia Meio dia, telejornal da TV Bahia. 🎧 PODCAST: ouça mais episódios do Eu Te Explico Participam desta edição a dona de casa Soraia, que foi vítima de violência obstétrica e busca reparação na Justiça, e a advogada Andreza Santana, especialista no tema. São entrevistadas também a psicóloga Verônica Santos da Silva e a ginecologista e obstetra Tatiana Magalhães Aguiar, que integra o Conselho Regional de Medicina (Cremeb). Andreza Santana é advogada especialista em casos de violência obstétrica g1 BA ⚖️ Caso de Justiça Soraia relatou ao podcast Eu Te Explico que, em 2021, estava prestes a dar à luz quando foi internada com perda de líquido amniótico. A primeira violência foi sentida quando ouviu no hospital que seu caso “não tinha nada demais”. Em seguida, a profissional que fez o seu parto cortou uma veia de modo equivocado e ela perdeu o útero. "O médico disse que meu útero estava cheio de miomas. Não tinham miomas, existia apenas um pequeno e que estava documentado em ultrassom", comentou. Soraia deixou a maternidade com dores intensas que se prolongaram por dias. Após novos exames, foi identificada a gaze esquecida dentro do seu corpo. O caso corre em segredo de Justiça e, de acordo com a advogada Andreza Santana, o processo ainda está em fase de designação de perito médico para análise dos procedimentos registrados em seu prontuário. RELEMBRE: Mulher denuncia maternidade por violência obstétrica CASO: Influenciadora denunciou violência obstétrica em 2021 Andreza conta que mulheres em busca de suporte jurídico após a violência obstétrica querem não apenas reparação, mas, acima de tudo, respostas. Angustiadas, elas tentam entender os motivos que levaram ao não atendimento adequado em um momento tão importante. Não adianta só conscientizar mulheres. É preciso conscientizar os profissionais, o Estado, a Secretaria de Saúde e as maternidades. Todos são sujeitos ativos para entender que a violência obstétrica existe e a gente precisa falar sobre o racismo obstétrico. Por meio de nota, a gestão do hospital informou que "se solidariza com as angústias da paciente" e que "preza por acolhimento humanizado às gestantes e parturientes". O caso de Soraia foi classificado como uma hemorragia pós-parto que trouxe complicações que levaram à histerectomia (retirada do útero). A nota informa que todas as medidas para preservação do útero foram implementadas até a intervenção cirúrgica, e que Soraia recebeu o "tratamento para ter alta reunindo todas as condições de retomar a vida normalmente, sem algum tipo de sequela". Atravessamentos de raça e classe A psicóloga Verônica Santos da Silva explicou que os casos de violência obstétrica são atravessados por questões de raça e classe que tornam mais vulneráveis mulheres pretas e de baixa renda. Com a experiência de quem coordenadora o Programa de Saúde do Odara e o "Nós por Nós", Observatório de Justiça Reprodutiva do Nordeste, ela assinala que, para as mulheres negras e periféricas, é historicamente negado um serviço adequado de saúde e a falta da percepção de como é importante cuidar. O resultado disso é a negação de atendimentos, descuido no modo de lidar sem humanização e falta de dignidade na relação entre o sistema de saúde e a paciente. "É uma violência institucional, que acontece quando as instituições não percebem ou não assumem que há uma prática violenta", completou. Verônica Santos da Silva é psicóloga e coordena o Programa de Saúde do Odara e do “Nós Por Nós” Observatório de Justiça Reprodutiva do Nordeste g1 BA "Não queremos esses profissionais", diz médica A ginecologista e obstetra Tatiana Magalhães Aguiar, que faz parte do Cremeb, assinalou que existem orientações para que os profissinais da obstetrícia e ginecologia tenham postura técnica e ética no tratamento das pacientes. Por isso, é crucial que haja denúncia sempre que for identificada alguma falha nessa relação. "A gente não quer que esses profissionais estejam na sociedade porque não deixa de ser uma mancha para aqueles que andam no caminho correto", afirmou. Tatiana Magalhães Aguiar é ginecologista e obstetra ligada ao Cremeb g1 BA Para denunciar casos de violência obstétrica, um caminho sugerido é o site do Cremeb (clique aqui e acesse). É possível encontrar no portal o Código de Processo Ético-Profissional, documento que reúne o conjunto de normas processuais que regulamentam as sindicâncias, os processos ético-profissionais e o rito dos julgamentos nos Conselhos Federal e Regionais de Medicina. Denúncias anônimas não são aceitas. Entre as exigências estão que a denúncia deve ser formalizada: Por escrito, digitada ou a punho, com o relato dos fatos e, quando possível, a identificação completa do médico denunciado; Com cópias de identidade do denunciante, CPF, comprovante de endereço e os meios eletrônicos disponíveis para contato; Acompanhada, sempre que possível, de documentos que comprovem as alegações, cópia de prontuários, exames, receitas, fotos, laudos, raio-x, áudios/vídeos acompanhados de transcrição por escrito, etc); Documentos podem ser enviados pelos Correios ao Cremeb ou entregues na sede da instituição, localizada na Rua Guadalajara, no bairro da Barra, em Salvador; Quem preferir, pode preencher formulário de denúncia (clique aqui para download do formulário); Também é aceito o envio de denúncia fotografada/digitalizada, previamente assinada, de forma digital ou com assinatura por escrito. *Nome fictício para preservar a vítima Você pode ouvir o Eu Te Explico no g1, GloboPlay, Spotify, Deezer e Amazon Music. Siga o Eu te Explico para ser avisado sempre que tiver novo episódio. 🎧 Veja trechos do episódio #114 do Eu Te Explico Vítima de violência obstétrica diz que recebeu ultimato: 'tiro seu útero ou você morre' Advogada explica o que é preciso para evitar violência obstétrica Psicóloga fala sobre atravessamentos de raça e classe na violência obstétrica 'A função do Cremeb é investigar as denúncias', afirma médica sobre violência obstétrica 🎧 VÍDEOS: Cortes do Eu Te Explico

FONTE: https://g1.globo.com/ba/bahia/podcast/eu-te-explico/noticia/2024/11/07/eu-te-explico-114-tiro-seu-utero-ou-voce-morre-como-a-violencia-obstetrica-acontece-antes-durante-e-depois-da-gestacao.ghtml


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